*Os Anarquistas e o Processo Social em Rojava

 

O movimento anarquista ativo na revolução em Rojava.
O movimento anarquista ativo na revolução em Rojava.

 

Uma Introdução, por Bruno Lima Rocha:

Desde que começou o cerco à Kobanê tenho dedicado várias horas por semana a entender e divulgar o máximo possível sobre essa revolução social iniciada numa combinação de Confederalismo Democrático e a Guerra Civil Síria. Enquanto militante, eu sempre estive envolvido com solidariedade internacional. Enquanto descendente árabe, eu sempre tentei procurar uma força de esquerda que combinasse ação direta e democracia interna. Enquanto acadêmico e professor de Geopolítica estudando a região por mais de 25 anos, Rojava é um sonho que se tornou realidade. Aqui eu começo a primeira de algumas entrevistas com organizações com real experiência nesse processo e na região. Nesta estou conversando com um militante do Devrimci Anarşist Faaliyet (DAF, ou Ação Revolucionária Anarquista). Eles têm sido bem ativos nessa ação e entendem em detalhes todo o processo Curdo, tanto em Rojava quanto no interior das fronteiras do Estado Turco.

É possível entender o PKK (Partiya Karkerên Kurdistani, Partido Popular do Curdistão) como uma força político-militar remodelada pelo pensamento de seu líder histórico (e sentenciado a prisão perpétua) sendo transferida organicamente para toda a organização? Ainda, temos duas perguntas em sequência: Você pode imaginar a reprodução dessas ideias além de um culto à personalidade ao redor da imagem de Abdullah Ocalan (Apo)? E, seria posKoma Civakên Kurdistansível universalizar as propostas do PKK-KCK (Koma Civakên Kurdistan, Grupo de Comunidades do Curdistão) além dos assuntos nacionais dos Curdos que ainda não foram resolvidos?

Nós temos de ver o assunto enquanto Movimento de Liberdade Curda. O PKK é uma organização do povo Curdo que vem lutando não apenas por 30 anos, mas centenas de anos. Especialmente após os anos 2000 o partido mudou sua ideologia, estratégia e característica. Assim, os críticos do movimento tem mesmo o mesmo vício de tomar o PKK como sendo o mesmo partido das décadas de 80 e 90. Apenas para lembrar, o PKK clamou pela liberdade não apenas para o povo Curdo, mas pela liberdade para todos os povos oprimidos no Oriente Médio. Pense sobre Rojava, PYD (Democratic Union Party, in Kurdish: Partiya Yekîtiya Demokrat), tem lutado não apenas pelos Curdos, mas pelos Ezidis, Turcomanos, Xiitas, Alauítas os quais o Daesh (ISIS, ISIL, EI, Estado Islâmico) quer destruir.

É observável um problema estratégico para a revolução de Rojava. Eu explico: a fronteira viva e aquela que é possível ser usada como santuário está com o KRG (Governo Regional Curdo no Iraque), mesmo o epicentro da guerra estando em Kobanê. É observável que se não houver reforços dos peshmerges (forças profissionais do KRG), provavelmente a coalizão anti-ISIS liderada pelos EUA não bombardeará a posição dos jihadistas. Logo, a aliança entre PKK-PYD e o KDP (Partido Democrático do Curdistão, Partîya Demokrata Kurdistanê, ou PDK) e sua coalizão com Massoud Barzani a frente do gabinete do KRG poderia implicar numa inevitável aproximação com o Ocidente? É possível sobreviver enquanto processo revolucionário dependendo militarmente e fisicamente do KRG e do Ocidente?

Temos que ver o papel dos peshmerges. Faz quase um mês e meio que eles não fazem nada por Rojava. Quando o YPG (Unidades de Proteção Popular, em Curdo: Yekîeyên Parastina Gel) e YPJ (Unidades de Proteção das Mulheres, em curdo: Yekîeyên Parastina Jinê), as organizações de auto-defesa do povo de Rojava tomou o controle de 60% de Kobanê, as forças de Barzani decidiram vir ajudar. É óbvio que essa foi uma ação estratégica de Barzani. Barzani declarou que como se não houvesse a Revolução de Rojava dois anos antes e temos que ver isso, EUA e outros países ocidentais não apoiam a resistência de Kobanê. Após a Revolução de Rojava não aceitaram a existência política do PYD ou dos cantões de Rojava. Assim, a melhor solução para eles é Barzani que não tem problemas com política capitalistas ou estatistas. Ainda, o KDP de Barzani é o partido irmão do AKP de Recep Erdogan (Partido do Desenvolvimento e Justiça, em turco: Adalet ve Kalkinma Partisi). Nestas circunstâncias, o povo em Rojava precisa de qualquer tipo de apoio. Isto não significa que ele pode receber ajuda de qualquer poder capitalista e estatista. Mas é como o YPG-YPJ lutando contra o EI, a Frente Al-Nusrat (uma afiliada do grupo Al-Qaeda)…, mas também lutando estrategicamente contra a Turquia, a Síria de Esad (Bashir Al Assad), o Curdistão de Barzani e todos os poderes capitalistas.

Ainda, em termos de estratégia, ao que tudo indica, o governo da Turquia tem favorecido as linhas de suprimentos deixando o EI se fortalecer dentro do território sob controle do exército turco. Aparentemente, isto é causado pelo cálculo realista de Ankara e o governo do AKP, considerando ser menos perigosa uma proposta de “califado” – ou o retorno do Ummah – comparado à ideia do separatismo Curdo, ou mesmo autonomia política de Rojava dentro do fracassado Estado da Síria? Pela posição turca, como avaliar a disputa entre os outros Estados operando através de sunitas jihadista, como Arábia Saudita e Qatar?

Na mídia hegemônica, é difícil achar notícias sobre o apoio Turco ao Estado islâmico. Não é apenas apoio por armamentos, ou sua posição neutra. Como você declarou, existe uma óbvia logística de apoio de países sunitas ao EI, mas o aquilo que nunca podemos esquecer são as relações escondidas entre o EI e poderes capitalistas ocidentais. A cena é clara de que um grupo terrorista islâmico tem fortalecido a mão dos EUA, especialmente no Oriente Médio.

Entrando no assunto da guerra civil Síria, o que pode ser visto hoje é uma guerra crescente entre Sunitas e Xiitas, e junto disto, entre o EI (e antes a Frente Al-Nusra) e a tentiva de conquista de Kobanê. Considerando essa realidade, qual seria o papel do Exército Livre da Síria hoje (FSA)? Esta força ainda possui algum poder de proteção – como o Qatar – ou caiu para uma condição de aliado secundário do YPG? Nós podemos considerar o Qatar o maior patrocinador do FSA? E, talvez esta seja a razão, ao passo que ambos o FSA e o YPG são contrários ao regime de Assad, Damascus e seus aliados (financiadores) preferiram liberar a área de Aleppo e Raqqa para operações do EI, permitindo que os sunitas jihadistas avançassem sobre Rojava?

Como declaramos antes, algumas das ações estratégicas contra o EI com o FSA não representam a real visão política do PYD. Então, este tipo de cooperação é o resultado das circunstâncias na Síria e em Rojava. A cooperação entre as organizações e grupos não deveria ser tomada como resultados das reais políticas das organizações e grupos. A guerra em Rojava, ainda mais continua na Síria, então é difícil para nós determinar os aliados. Esta longe da solidariedade dos revolucionários pela Resistência de Kobanê e pela Revolução de Rojava.

Eu entendo, mesmo de um relance à distância, que para os Estados da Turquia, Síria (o que restou dela) e do Irã, um Curdistão a oeste com autonomia política e uma sociedade trabalhando sobre bases igualitária e secular implica num problema insolúvel. Não seria a proposta do PYD não separar-se formalmente da Síria, mas obter o status de uma Federação política autônoma na Síria, assim como um futuro reajuste com o Iraque e com o governo de Irbil (Capital do KRG)? A Turquia toleraria tal estatuto, mesmo possuindo o segundo maior exército da OTAN e o de maior contingente num Estado de grande população islâmica? Se o Curdistão Turco recebe tal status, o que preveniria uma Confederação com o Curdistão Sírio? E, dessa forma, qual seria a reação do KRG e da coalizão de direita e partidos Curdos pró-Ocidente, como o KDP?

Estes cenários estão sendo discutindo ao passo que a guerra na Síria acabou. É difícil estimar como essas guerras irão modelar o Oriente Médio. Rojava declarou a liberdade de seus três cantões há 2 anos e meio atrás sem se importar com qual seriam as reações de Esad (Bashir al Assad), Erdogan ou Barzani. Todos os três declararam que não reconheciam o auto-governo dos cantões de Rojava. Ainda, eles insistem em não falar sobre a existência política de Rojava. Camarada, nós precisamos ver que durante estes dois anos os Estados em torno de Rojava mudaram suas políticas em suas regiões com a decisiva luta do povo livre de Rojava. Eles tentam encontrar meios de controlar a liberdade de Rojava. O cenário principal é de que Rojava será uma federação parte da Síria de Esad. Mas de qual Síria estamos falando, qual será o poder de Esad na Síria ou se haverá um Esad para liderar a Síria? O segundo cenário é de que Rojava fará parte do Curdistão de Barzani. O que seria o objetivo de Barzani, mas os princípios que sustentam Kobanê contra o EI não só assustam o EI como também Barzani. Porque a Revolução de Rojava se autodeclarou uma revolução centrada no anticapitalismo, no antiestatismo, nas mulheres e no meio ambiente.

Ler na íntegra: http://www.semanaon.com.br/coluna/10/2018/os-anarquistas-e-o-processo-social-em-rojava

Nova divisão administrativa de Rojava, áreas ainda não declaradas em azul

Nova divisão administrativa de Rojava, áreas ainda não declaradas em azul (15/08/2017)

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Confederalismo democrático: da modernidade capitalista, para a modernidade democrática

É comum nos espaços internacionalistas e grupos de solidariedade com a revolução Rojava falar do confederalismo democrático como o paradigma ideológico do movimento de libertação do Curdistão. Embora este conceito tenha sido útil para tornar conhecida a evolução ideológica do movimento, ela permanece um pouco incompleta e pode ser mais apropriado falar da modernidade democrática. Por quê?

Para entender o conceito de modernidade democrática , é pouco útil olhar para o nome, porque, como explica Öcalan nos livros do “manifesto para uma civilização democrática”, ele usou essas palavras na ausência de poder encontrar melhores. O conceito de modernidade democrática surge em oposição à da modernidade capitalista , um conceito para definir a mentalidade hegemônica da civilização de hoje, que tem ocorrido há vários séculos.

Por modernidade capitalista entendemos a consolidação da lógica do mercado como um sistema dominante nas sociedades, onde tudo é medido de acordo com o custo e o preço. Assim, toda atenção é focada na sociedade material, deixando de lado os valores éticos e morais necessários para uma sociedade existir. A aplicação atual do sistema de mercado em todas as áreas da sociedade, baseia-se em dois elementos que alcançaram a hegemonia absoluta: a ciência positivista e o Estado-nação.

A ciência positivista , que se consolida como uma fonte de idéias empiristas do conhecimento e do método científico cartesiano, promove dualismo sujeito-objeto. A idéia de uma observação “objetiva”, simulando que o sujeito racional é uma entidade completamente externa ao objetode estudo, é catastrófico quando aplicado à sociologia. A mentalidade em que só podemos extrair o conhecimento “objetivo” do que podemos ver, experimentar e verificar, está completamente focada em valores materiais, dando a volta aos valores éticos e espirituais que acompanharam as sociedades humanas ao longo da história. São precisamente esses valores imateriais que iniciaram a existência de sociedades, consolidando um sistema comum de ética e moral – um regime de verdade – que permitiu que a sociedade funcionasse além do sistema da tribo ou do clã.

No outro lado, o E nação Tate estabeleceu-se como estrutura política hegemônica do modo – chamado Revolução Francesa. A busca da liberdade das classes populares, oprimidas pelo despotismo dos estados monárquico-teocráticos da Europa medieval, foi habilmente conduzida pelos cravados de poder da burguesia emergente. A necessidade de uma identidade comum para unificar o movimento anti-monárquico, abandonou a identidade moral da religião para se concentrar na identidade material do cidadão, que em vez de servir a Deus serve ao Estado. A premissa de “uma língua, uma bandeira, uma nação” tornou-se a argamassa do homogeneizador do Estado-nação, causando a negação de qualquer identidade dissidente.

Mas o que está por trás desse Estado? Assim como os sacerdotes e os monarcas controlavam a sociedade com base na força ideológica da “Palavra de Deus”, as elites burguesas, que conseguiram uma grande acumulação de poder material baseado no comércio e no dinheiro, implementaram a ideologia da “mão” invisível do mercado “. Comércio, uma atividade considerada injusta ao longo da história devido à sua falta de ética, obtém uma posição central no novo sistema social. A mentalidade capitalista do capitalismo consegue assim deslocar a mentalidade moral da religião, que após séculos de convivência e colaboração com o poder havia sido completamente corrompida.

Este processo começa a culminar a modernidade capitalista , onde os estados-nação, justificando suas ações baseadas na ciência positivista, tornam-se a ferramenta mais eficiente de exploração e opressão. O materialismo extremo deste modelo de sociedade se funde com a herança patriarcal, chovinística e antropocêntrica da ética judaico-cristã, já prevalecente em monarquias absolutas. Assim, é construída uma lógica de “benefício máximo”, que cria sua riqueza baseada na exploração das mulheres, da natureza e das classes oprimidas.

E compreender a modernidade capitalista , a modernidade democrática é superar esta fase hiper-materialista, com base nos valores éticos subjacentes e práticas democráticas na própria sociedade. Para alcançar essa modernidade democrática , o movimento de libertação do Curdistão não se limita a uma definição teórica do que a sociedade “objetiva” deve fazer para superar o capitalismo, já que a ideologia que esse paradigma emana evita a mentalidade positivista e o totalitarismo do estado-nação. A organização política está, portanto, situada não como uma vanguarda fora da sociedade, mas como um sujeito transformador dentro dela, procurando mostrar com praxis o que significa ser uma sociedade democrática.

A crítica e auto – críticas têm sido as principais ferramentas de transformação e ideológica nítida, permitindo aprender o caminho revolucionário que foi inspirado 40 anos atrás, em idéias marxistas e os movimentos de libertação nacional. Foi essa autocrítica, representada no pensamento de Abdullah Öcalan e sintetizada em seus livros do “manifesto para uma civilização democrática”, que permitiu o redirecionamento estratégico, baseado no estudo e uma maior compreensão da história e das sociedades humanas .

É importante no momento de estudar a história para não cair no discurso do poder, o que nos apresenta uma História onde o Estado é o único modelo possível de civilização. A sociedade civilizada, que nasceu com a revolução neolítica baseada em princípios de cooperação e apoio mútuo – o que entendemos como uma sociedade natural – há cerca de 12 mil anos, inevitavelmente procura livrar-se da exploração e opressão dos sistemas estaduais, nascidos Cerca de 5000 anos atrás. A sociedade democrática, herança direta da sociedade natural , sobreviveu apesar dos ataques dos Estados Unidos, resistindo a pressão totalitária e hierárquica, tentando recuperar o estado da sociedade comunal e igualitária.

Essas resistências muitas vezes resultam em revoltas populares e insurreições, que são esmagadas pela superioridade militar das estruturas estatais. De tempos em tempos, alguns conseguem um certo grau de sucesso, especialmente quando há uma forte análise social e organização por trás do poder centralizador do Estado, levando a uma negociação que melhora as condições sociais ou um genocídio onde o Estado extermina resistência. Para evitar que estas revoltas com o desejo de liberdade de recorrer e ganhar força, além do extermínio material e ideológico, o Estado aproveita os centros de conhecimento onde a história é escrita (academias e universidades), para garantir que sua versão de os fatos prevalecem.

Analisando as várias revoluções culturais na história da humanidade, desde a revolução neolítica até o Renascimento, passando pelo nascimento das grandes religiões e dos grandes sistemas civilizadores, vemos como a mentalidade muda, o que significa a transição para um estado de civilização superior, eles não são aqueles que se impõem pela força, mas aqueles que a população assimila por sua própria vontade. É aqui que as críticas principais do socialismo curdo são o socialismo soviético, baseado na opressão que emana das estruturas do Estado-nação, tentou projetar “objetivamente” um sistema que eles chamavam de socialismo real. Mas uma revolução não pode prosperar quando é imposta com base no totalitarismo estatista. O socialismo só pode ser alcançado como resultado da livre decisão da sociedade.

Uma análise aprofundada da guerra, da paz e da legitimidade da violência, juntamente com uma maior compreensão da história da humanidade e dos processos biológicos da própria vida, são sintetizados no conceito de autodefesa , outra dimensão-chave do paradigma da modernidade democrático Compreendemos por autodefesa as estratégias e os mecanismos dos seres vivos para sobreviver e não ser exterminados. Conceber as sociedades como entidades vivas a nível coletivo, como evidenciado por enxames de abelhas ou escolas de peixes, é claro que a sociedade humana precisa de um sistema de autodefesa coletiva, o que nos permite sobreviver contra os ataques do leviatã em que eles converteram os estados-nação capitalistas.

As diferentes dimensões em que o Estado-nação ataca a sociedade e a natureza, drenando sua energia e recursos com base na expansão colonial e na busca do máximo benefício, são amplas e diversas. Para alcançar a emancipação (e nos defendermos) desse fardo que corrompe a sociedade e destrói a natureza, é necessário começar pela recuperação da sociedade, hoje fragmentada e despojada da sua capacidade de autodefesa. A modernidade capitalista tem levado as empresas a borda individualista do abismo, onde os cidadãos são completamente dependentes no estado para resolver os seus problemas em vez de ajudar uns aos outros. É por isso que o primeiro passo para avançar para a modernidade democrática é a autonomia democrática, conceito-chave junto com outros três que explicamos a seguir: o confederalismo democrático , a república democrática e a nação democrática .

A autonomia democrática está em processo de organização social que permite a emancipação do Estado-nação. É abordado a partir de uma perspectiva local, muitas vezes em uma chave municipalista, buscando organizar a sociedade e fortalecer os laços entre as pessoas com base na autogestão e no apoio mútuo. À medida que esses nós sociais são construídos, eles procuram reforçar e alimentar de volta um ao outro, tecendo processos de organização com outros nós baseados em estruturas confederativas. Este processo de organização entre os grupos sociais locais, organizados de forma independente e independente do estado, é o que entendemos como confederalismo democrático .

À medida que esta rede confederal democrática é configurada, é muito provável que os Estados tentarão atacá-la usando diferentes métodos de guerra, buscando assim perpetuar a sua dominação e exploração da sociedade e os indivíduos que a compõem. Para evitar que isso aconteça, é essencial trabalhar diplomáticamente com os Estados, o que deve ser visto como uma estratégia de autodefesa, buscando limitar seu poder através de acordos e contratos sociais. Quanto mais organizada e mais forte for a sociedade, mais espaço de manobra terá que dobrar os Estados, sempre tendo o cuidado de não se deixar enganar por eles. Estados de respeitar a autonomia democrática e organização baseada em Confederalismo democrática , é o que nós entendemos como rrepúblicas democráticas .

Essas repúblicas democráticas não devem ser entendidas como o objetivo a ser alcançado, mas como meio de limitar o poder dos Estados. As idéias desenvolvidas pelo socialismo libertário conseguem apontar o Estado como um inimigo, mas falta profundidade quando se trata de apresentar alternativas. O Estado possui mecanismos extensivos e elaborados de autodefesa, que devem ser desativados passo a passo com base na organização popular da sociedade. Um confronto direto contra o Estado é levar o conflito ao seu terreno natural, guerra militar, um cenário em que o Estado possui enormes recursos e experiência. É por isso que o caminho do diálogo deve sempre ser considerado como uma prioridade, buscando uma solução democrática. Mas se o Estado não aceitar as condições da sociedade, respondendo com violência contra a sociedade, a única alternativa possível é a guerra do povo revolucionário.

O objetivo que deve prosseguir em todos estes processos, tanto na construção da autonomia democrática , organizar Confederalismo democrática como transformar o Estado em uma república democrática , é construir a nação democráti ca . O conceito de nação democrática não deve ser entendido sob o paradigma do estado-nação de uma língua, uma bandeira, uma pátria, mas como a grande unidade social que compartilha uma história e cultura comuns. Quando usamos o termo nação, é em parte devido à falta de uma palavra melhor que a define, mas nos referimos à idéia de uma sociedade ampla, compartilhada por pessoas que habitam um território comum. A nação democrática não está ligada a fronteiras delimitadas em um mapa, mas a uma sociedade que se sente perto de compartilhar valores e mentalidades comuns.

A nação democrática deve se concentrar na construção de uma sociedade igualitária e ecológica, buscando a emancipação das mulheres e a defesa da natureza como prioridades. A mentalidade da nação democrática inclui uma série de dimensões ou áreas de ação que devem ser gerenciadas de forma democrática, com base na ética e na consciência social. Essas dimensões incluem o indivíduo na comunidade, a vida social, a vida política, as relações, a gestão da economia, a estrutura jurídica, a cultura, a autodefesa e a diplomacia. Essas dimensões interagem entre si e não devem ser entendidas como elementos fragmentados e isolados, mas como campos inter-relacionados a serem desenvolvidos para o bom funcionamento da sociedade. As nações democráticas tornam-se assim a nova unidade, com base emconfederalismo democrático , tecer uma rede global que se torna uma civilização democrática global. Esse processo seria o ponto culminante da modernidade democrática.

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